Violência mata 30 mil por ano no Brasil

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É uma guerra não declarada. Em 20 anos, de 1980 a 2000, cerca de 600 mil brasileiros foram assassinados e a taxa de homicídios subiu 130%. São 30 mil vítimas por ano, o triplo dos mortos civis em um ano de guerra no Iraque, por exemplo.

 

É uma guerra não declarada. Em 20 anos, de 1980 a 2000, cerca de 600 mil brasileiros foram assassinados e a taxa de homicídios subiu 130%. São 30 mil vítimas por ano, o triplo dos mortos civis em um ano de guerra no Iraque, por exemplo. Os jovens são os mais atingidos. A violência cresce em todos os estados brasileiros. Os números dramáticos são da Síntese de Indicadores Sociais, pesquisa divulgada ontem pelo IBGE.

O Estado do Rio, que discute com o governo federal se usa ou não o Exército para conter a violência depois da guerra na Rocinha, está na frente na estatística nacional de mortes de homens por arma de fogo, com taxa de 181,6 por cem mil habitantes, seguido por Pernambuco (179,5), Espírito Santo (121,7), SP (114,6) e Distrito Federal (112,7).

A Região Sudeste tem taxa de 106,2 mortos por cem mil habitantes. O índice nacional é de 30,9 mortes por cem mil habitantes. Os dados são de cruzamentos com base no Censo de 2000.

Os números são mais dramáticos quando analisados por faixa etária. De 1991 a 2000, a taxa de mortalidade de jovens do sexo masculino de 15 a 24 anos por armas de fogo cresceu 95%. No mesmo grupo, em 2000, os homicídios representavam 57,1% das mortes por causas externas, enquanto os acidentes de trânsito eram 18,3%.

– Todo o problema se concentra na falta de perspectiva na população jovem de 15 a 24 anos. Eles não têm emprego e a evasão escolar é alta nesta faixa etária. Estão soltos no mundo, disponíveis para serem arregimentados pela marginalidade. O Rio de Janeiro é uma fronteira aberta – disse o demógrafo Celso Simões, um dos coordenadores da pesquisa do IBGE.

Mortes por homicídio superam as do trânsito.

Segundo Simões, é “preciso uma política pública objetiva de inserção desses jovens no mercado de trabalho e na educação”.

– O apelo ao consumo é muito forte e eles, sem emprego, acabam criando formas para conseguir consumir – afirmou o demógrafo.

O trabalho do IBGE identificou ainda, em dados retirados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, um total de 2.069.866 óbitos ocorridos no país por causas externas (homicídio, suicídio e acidentes de trânsito) no período de 1980 a 2000.

Os números mostram uma inversão: na década de 1980 os acidentes de trânsito se destacavam como a principal causa externa de óbitos; na década seguinte, esse quadro se alterou com os homicídios assumindo a liderança dentre essas causas. O trabalho divulgado ontem pelo IBGE aponta outro problema: apesar de concentrar as maiores taxas de homicídio do país, a Região Sudeste tem o menor número de leitos disponíveis ao Sistema Único de Saúde (SUS) do país.

– Conseguimos diminuir a mortalidade infantil para nossos jovens começarem a morrer de maneira estúpida. Essa violência é um fenômeno que vem crescendo, principalmente na década de 90, e coincide com a própria crise econômica. Altas taxas de desemprego estão associadas a altas taxas de violência – disse Celso Simões.

“Minha filha foi morta de forma banal”

Considerando apenas os homicídios, em 2000, independentemente de idade e sexo, a taxa de mortalidade no Brasil por homicídio era de 27 para cada cem mil habitantes. Em Pernambuco, era o dobro (54), seguido por Estado do Rio (51), Espírito Santo (46) e SP (42). Especificamente para o sexo masculino, de 1980 a 2000, no país as taxas de mortalidade por homicídio mais que duplicaram, passando de 21,2 para 49,7 por cem mil habitantes, situação sentida na pele por milhares de famílias:

– Minha filha foi morta de forma banal. Voltou mais cedo da escola, porque não tinha professores naquele dia, e foi baleada no peito – disse a dona de casa Euza Gonçalves de Lima, de 40 anos, mãe da estudante Aline Gonçalves de Lima, de 16 anos, morta este ano na Favela Beira-Mar, em Duque de Caxias.

Luiz Antônio de Oliveira, chefe da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE, lembrou que uma das explicações para o alto índice de assassinatos no Rio é o fato de a Região Metropolitana, onde a violência é maior, concentrar 75% da população do estado:

– Em SP, o percentual é de 50%.

O presidente do IBGE, Eduardo Nunes, concorda:

– A situação é mais concentrada nas regiões urbanas, onde a densidade demográfica aumentou muito nos últimos 20 anos. E os jovens ficam mais vulneráveis à violência.

O índice de mortalidade por homicídio é mais grave se considerados os óbitos masculinos de adolescentes e jovens de 15 a 24 anos. Nesta população, as taxas de mortalidade por homicídio em cada 100 mil habitantes foram extremamente elevadas em alguns estados: RJ (205), Pernambuco (198), SP, Espírito Santo e Amapá (153) e Distrito Federal (133).

Fonte: Antonio Werneck e Chico Otavio

 

 

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